A partir de 1 de outubro de 2016, o renminbi passa a fazer parte do cabaz de divisas que suporta a unidade de conta do FMI. O euro é a divisa que perde mais peso nesse cabaz, com a moeda chinesa a entrar representando 10,92%. "Um momento histórico", diz Dan Steinbock
O Fundo Monetário Internacional (FMI) decidiu esta segunda-feira aprovar a inclusão da divisa chinesa, o renminbi, no cabaz que suporta a sua unidade de conta designada por “direito de saque especial” (DSE, SDR no acrónimo em inglês). A inclusão entra em vigor a partir de 1 de outubro de 2016, e a divisa chinesa terá um peso de 10,92% nesse cabaz que, atualmente, inclui o dólar norte-americano, o euro, o iene japonês e a libra esterlina. Christine Lagarde, a diretora-geral do FMI, referiu que, com esta decisão, o cabaz que suporta a unidade de conta da organização torna-se “mais representativo das mais importantes divisas mundiais”.
O FMI procede a uma revisão do cabaz de divisas de cinco em cinco anos, revaliando os pesos respetivos das divisas que o constituem, e a possibilidade de inclusão de novas divisas. Em 1999 entrou o euro, substituindo o marco alemão e o franco francês, que, então, representavam 32% no cabaz. Na última revisão há cinco anos, no final de 2010, não foi considerado que a moeda chinesa cumprisse os critérios de divisa plenamente convertível. O que agora, aconteceu.
A entrada da divisa chinesa obrigou a uma revisão dos pesos das outras quatro divisas internacionais que o compunham desde 1999. O renminbi entrou diretamente para o terceiro lugar em termos de pesos no cabaz.
Em relação aos pesos definidos em finais de 2010, na anterior revisão da composição do cabaz, o euro perdeu 6,17 pontos percentuais, a libra esterlina 3,21 pontos percentuais, o iene 1,07 pontos percentuais e o dólar norte-americano apenas 0,17 pontos percentuais.
Os novos pesos no cabaz de divisas, a partir de 1 de outubro do próximo ano, são os seguintes: 41,73% para o dólar; 30,93% para o euro; 10,92% para o renminbi; 8,33% para o iene; e 8,09% para a libra esterlina.
As estimativas preliminares do próprio FMI em agosto apontavam para um peso do renminbi no cabaz entre 14% e 16%, o que teria significado uma redução muito significativa do peso do dólar, superior inclusive à que acabou por ser aplicada ao euro, em algumas simulações.
O DSE não é uma divisa. Foi criado em 1969 como ativo de reserva equivalendo a 0,888671 gramas de ouro, e, a partir de 1973, passou a basear-se num cabaz de divisas. Os empréstimos do FMI - como os realizados aos países resgatados na zona euro - foram feitos em DSE.
Segundo os analistas, a inclusão no cabaz do DSE da divisa chinesa a partir de outubro de 2016 será uma ajuda para os bancos centrais das economias que têm uma ligação comercial e financeira mais forte com a China.
Segundo dados do final de setembro fornecidos pela SWIFT, os pagamentos internacionais na divisa chinesa representavam 2,45% do total, face a 43,27% em dólares, 28,63% em euros, 9,02% em libras esterlinas e 2,88% em ienes. Ainda não estão disponíveis dados para outubro.
Um momento histórico, diz Dan Steinbock
“Esta decisão é histórica. Se a adesão da China à Organização Mundial do Comércio em 2001 abriu caminho para a expansão comercial mundial, a inclusão da moeda chinesa no cabaz do FMI simboliza a iminente internacionalização do sector financeiro chinês. O impacto de curto prazo é marginal, mas a longo prazo será enorme”, diz-nos Dan Steinbock, um especialista europeu membro do Instituto de Estudos Internacionais de Xangai.
Steinbock acrescenta, ainda, uma outra razão para o momento histórico. “É o primeiro passo no sentido de abrir o clube mundial de elite das divisas de reserva às economias emergentes. Hoje em dia, as divisas das economias desenvolvidas dominam os mercados, apesar das economias emergentes cada vez mais alimentarem o crescimento mundial. Esta discrepância é insustentável”, conclui.