Comércio em moeda local entre Brasil e Argentina recua

Comércio em moeda local entre Brasil e Argentina recua

28 setembro 2014, 15:00
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A crise cambial pela qual passa a Argentina afetaria menos os exportadores brasileiros se o comércio entre os dois países usasse de forma mais ampla o mecanismo de transações em moeda local, iniciado em 2008.

A alternativa, presente nos discursos presidenciais brasileiros e argentinos nos últimos anos, sempre aparece como uma meta a ser perseguida. Na prática, porém, o volume de comércio em reais e pesos recuou neste ano pela primeira vez, diante da resistência do Banco Central brasileiro em acumular divisas do país vizinho.

De janeiro a agosto deste ano, um total de R$ 1,47 bilhão foi exportado pelo Brasil em moeda local. O número é 9% menor que o registrado no mesmo período do ano passado, de acordo com dados consolidados pelo Banco Central.

O tombo não causa preocupação em Brasília, apesar das promessas recentes da presidente Dilma Rousseff de incentivar a ferramenta para auxiliar os argentinos a manter as compras de produtos nacionais, mesmo diante da escassez de dólares.

Na avaliação do Banco Central, aceitar a entrada de pesos em quantidade reduziria a qualidade das reservas brasileiras. Apesar de ainda robustas, em um momento de crise financeira internacional, o Banco Central prefere não arriscar.

Fontes ouvidas pelo Estado confirmam que essa alternativa dificilmente avançará, especialmente este ano. Procurado pela reportagem, o Banco Central não se pronunciou oficialmente.

"O quadro na Argentina é bastante grave, e nós sugerimos trabalhar com moeda local", afirma Alberto Alzueta, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Argentina. "Mas já ouvi conversas de que não tem sentido o Brasil ficar com um superávit de pesos. Muito simples, usa os pesos para comprar produtos argentinos."

Com menos dólares, o governo de Buenos Aires passou a ser mais seletivo na concessão de DJAIs, documentos por meio dos quais os importadores argentinos pedem autorização para comprar produtos de fora. Como revelado pelo Estado, as permissões se concentram em medicamentos e petróleo e gás, que consomem cerca de US$ 15 bilhões anuais.

A Argentina vive um período de grave crise cambial após diversas medidas adotadas pelo governo de Cristina Kirchner para limitar importações. O caso chegou ao ápice depois que a Justiça americana determinou o pagamento integral de títulos da dívida argentina a um grupo de credores que acionou o governo vizinho.

O problema é que parte desses títulos foi renegociada há alguns anos, quando outros credores receberam bem menos do que investiram. Agora, o pagamento ordenado pela Justiça dos Estados Unidos aos chamados fundos holdouts poderia obrigar o governo argentino a pagar os demais credores nas mesmas condições e o vizinho não dispõe de dólares em quantidade suficiente para realizar essa operação, o que equivaleria a anular a renegociação anterior.

Nesse cenário, argentinos e brasileiros teriam ganhos ao optar por pesos e reais nas transações comerciais. Não haveria pressão para a retirada de dólares do país vizinho e seria mantido o ritmo de vendas do Brasil para a Argentina - as exportações encolheram 32% de janeiro a agosto deste ano em relação ao ano passado.

Apesar do recuo no uso de moeda local, o mecanismo responde por uma parcela maior das vendas brasileiras. De fato, como o tombo das exportações é maior do que a queda no sistema de pesos e reais, as operações em moeda local respondem por 15% do total exportado pelo Brasil para a Argentina neste ano - pouco acima dos 12,5% registrados no mesmo período do ano passado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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