FMI revê novamente em baixa crescimento mundial

FMI revê novamente em baixa crescimento mundial

1 fevereiro 2015, 17:23
kasino
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O Fundo Monetário Internacional voltou a cortar nas suas previsões de crescimento a nível global, na zona euro e no Japão para 2015. A China cresce abaixo de 7% e a Rússia tem dois anos de recessão.


O mergulho dos preços do petróleo desde junho de 2014, apesar de ter um efeito positivo líquido no crescimento mundial, não foi suficiente para o Fundo Monetário Internacional (FMI) manter as suas previsões anteriores de crescimento mundial para 2015. Depois de as já ter cortado em outubro de 2014, o que, na altura, provocou um "choque" nos mercados financeiros, o FMI voltou, agora, a reduzir as previsões para 2015 e 2016 ao divulgar a atualização do "World Economic Outlook" (WEO).

Olivier Banchard, conselheiro económico do Fundo e responsável pela área de Investigação, anunciou, esta terça-feira, em Pequim (madrugada em Lisboa) que o crescimento mundial previsto para 2015 é de 3,5%, menos três décimas do que na previsão de outubro de 2014. Em 2016, espera-se uma ligeira melhoria com a previsão a subir para 3,7%, mas mesmo assim menos três décimas do que na previsão anterior.

A economia mundial continuará a crescer, face à estimativa de 3,3% em 2014, mas não tanto quanto o desejável e no quadro de uma "conjuntura complicada", em que a derrocada do preço do petróleo terá impactos desiguais ao nível dos países.

Os números do FMI são mais otimistas do que os revelados este mês pelo Banco Mundial no seu "Global Economic Prospects": 3% para 2015 e 3,3% para 2016. Mas a tendência de revisão em baixa é similar nas duas instituições; o Banco Mundial cortou quatro décimas para o crescimento em 2015 e duas décimas para 2016 em relação ao anterior documento de previsões de junho de 2014.

"Forças negativas persistentes", no dizer do FMI, anulam os efeitos positivos da derrocada do preço do petróleo e da desvalorização de moedas como o euro e o iene. A culpa é das "heranças remanescentes" da crise, de "fraquezas subjacentes" que persistem, e do fraco potencial de crescimento em muitas economias.

Olivier Blanchard não deixou, no entanto, de sublinhar, ao finalizar a sua intervenção na conferência de imprensa em Pequim, que a avaliação dos efeitos da descida do preço do petróleo é complexa, pelo que as previsões do FMI até podem vir a revelar-se "um pouco demasiado pessimistas", podendo vir a ser revistas em alta na Primavera. "Espero bem que sim", rematou. O WEO é publicado duas vezes por ano, em abril (reunião da Primavera) e em outubro (reunião de Outono), e sofre duas atualizações intercalares, em janeiro e julho.

Japão, Zona Euro e Rússia no radar

A revisão em baixa global deriva de  revisões em baixa que tocam economias com peso sistémico no mundo: zona euro, Japão, China e Rússia.

O crescimento para 2015 na zona euro é cortado em duas décimas para 1,2%, mantendo-se dentro do patamar de crescimento medíocre, apesar da conjugação de quatro fatores favoráveis: a queda dos preços do petróleo, uma política monetária de maior "alívio" (a atenção centra-se, esta semana, nas decisões que poderá tomar o Banco Central Europeu), uma política orçamental mais neutral e a recente desvalorização do euro. A Itália, entre as grandes economias do euro, é a que regista uma maior revisão em baixa; a previsão de crescimento para 2015 desce de 0,9% para 0,4%, depois de dois anos de recessão.

A previsão de crescimento para o Japão sofre, também, uma redução de duas décimas para 0,6%, sintoma da profunda e arrastada crise da economia nipónica que entrou em recessão no terceiro trimestre de 2014. O Japão foi um dos "desapontamentos" de 2014, lamentou Blanchard.

O corte mais significativo é, no entanto, operado na previsão do crescimento das economias emergentes e em desenvolvimento para 2015. A redução é de seis décimas, com o crescimento a descer para 4,3%, com duas revisões em baixa que se destacam: a do crescimento da economia chinesa que, pela primeira vez desde as reformas, ficará abaixo do limiar dos 7%; e da economia russa que terá dois anos de recessão consecutivos, com quebras de 3% em 2015 e 1% em 2016. De sublinhar, ainda, que a derrocada do preço do petróleo terá um efeito negativo nas economias emergentes exportadoras desta commodity.

China abaixo de 7% já em 2015

O FMI prevê para a China o crescimento de 6,8% em 2015 e de 6,3% em 2016, revelador da "desaceleração ordeira" decidida politicamente por Pequim, o que terá não só um efeito psicológico como um impacto que afetará o resto da Ásia e todos os que vivem de exportar para a segunda maior economia do mundo.

Na conferência de imprensa, Gian Maria Milesi-Ferretti, diretor-adjunto de Investigação do FMI, resumiu de um modo claro as implicações do novo ritmo chinês: "um crescimento económico mais lento na China acarretará um crescimento mais lento das importações por parte da China".

O FMI diverge, neste ponto, do Banco Mundial que só prevê taxas de crescimento da economia chinesa abaixo de 7% a partir de 2017.

A divulgação da atualização do WEO pelo FMI ocorreu pouco depois do Instituto Nacional de Estatística da China ter divulgado que o crescimento económico em 2014 foi de 7,4%, o mais baixo dos últimos 24 anos. O primeiro-ministro Li Keqiang sublinhou numa reunião do Conselho de Estado realizada na segunda-feira que a economia chinesa entrou "numa nova normalidade". É de esperar que o objetivo para 2015 seja revisto para 7% na reunião do Congresso Nacional Popular em março.

A boa notícia é a revisão em alta do crescimento dos Estados Unidos, que, em vez de 3,1%, deverá crescer 3,6% em 2015. O Banco Mundial prevê 3,2%. Os EUA transformaram-se no motor de crescimento do mundo desenvolvido e a "divergência é crescente" em relação à Zona Euro e ao Japão. Mas "muita ação no mundo continuará a vir dos mercados emergentes", acrescentou Blanchard.

Para as economias desenvolvidas, o FMI aconselha que a "política monetária se mantenha acomodatícia para evitar que as taxas de juro reais subam" em virtude do efeito desinflacionista ou mesmo deflacionista da queda dos preços do petróleo. Recorde-se que o Banco Mundial, no "Global Economic Prospects", prevê que o preço do petróleo desça 31,9% em 2015, para só voltar a subir marginalmente em 2016 e 2017. Por seu lado, o FMI projeta uma descida de 41,1% em 2015, com o preço médio anual do barril a descer de 96,26 dólares em 2014 para 56,73 dólares em 2015. A inflação média anual nos países desenvolvidos deverá descer de 1,4% em 2013 e 2014 para 1% em 2015 (anterior previsão era de 1,8%) com uma subida para 1,5% em 2016. Em algumas das economias desenvolvidas deve avançar-se com investimentos em infraestruturas, um dos aspetos centrais dos objetivos fixados pelo G20 que o FMI apoia.

Suíços não tinham alternativa e BCE não pode desapontar

Na sessão de perguntas e respostas, Olivier Blanchard comentou o evento mais importante desta semana, a reunião do BCE em Frankfurt. "Quando o BCE anunciar [o QE, quantitative easing] tem de estar em linha com as expetativas. O risco é que os investidores fiquem desapontados se for demasiado pequeno".

Sobre a decisão do Banco Nacional da Suíça em terminar na semana passada com a indexação ao euro, o conselheiro económico do FMI admitiu: "Não tinha alternativa - teria de haver turbulência inesperada. É difícil sair de uma indexação de um modo limpo. Mais eventos destes podem ocorrer este ano ou nos próximos anos".

( notícia do expresso datado de 20 de Janeiro de 2015 )

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