Bolsa ganha com disputa eleitoral

Bolsa ganha com disputa eleitoral

15 setembro 2014, 14:10
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Dilma, Marina ou Aécio? O acirramento na corrida presidencial que sacudiu os mercados nas últimas semanas já tem pelo menos um vencedor: a BM&FBovespa. O sobe e desce das ações e dos juros levou a um aumento substancial dos volumes negociados na bolsa, e também a revisões nas projeções para os resultados da companhia, em um ano até então dado como "perdido" pelos analistas.

A média diária de negócios no mercado de ações saltou 23% em agosto em relação ao mês anterior, de R$ 6 bilhões para R$ 7,45 bilhões. Quando considerados apenas os pregões realizados após a trágica morte de Eduardo Campos, em 13 de agosto, o volume médio sobe para quase R$ 8,5 bilhões, um avanço de 41%. As operações com derivativos apresentam movimento semelhante. Quanto mais negócios passam pela bolsa, maior o faturamento da companhia, que concentra as operações realizados no mercado brasileiro.


Desde a mínima do ano, atingida em 14 de março, o Ibovespa, principal índice da bolsa, acumula ganho de quase 30%, apesar da queda da semana passada. A alta é atribuída à reviravolta no quadro eleitoral e ganhou força com a entrada de Marina Silva na disputa.

Existe a expectativa entre os investidores de mudanças na condução da política econômica em um eventual governo da candidata do PSB, com a retomada do tripé macroeconômico formado por câmbio flutuante, regime de metas de inflação e responsabilidade fiscal.

A BM&FBovespa tende a se beneficiar do aumento no volume de negócios em momentos de volatilidade do mercado. O movimento pode ser transitório durante uma crise, quando as ações perdem valor, mas o acirramento da corrida para a Presidência trouxe mais negócios para a bolsa e, ao mesmo tempo, alta nas ações. Mesmo em pregões nervosos como o de sexta, quando o principal índice da bolsa registrou queda de 2,4%, o volume de negócios foi de R$ 9,8 bilhões, bem acima da média diária registrada em meses anteriores.

A BM&FBovespa é a principal favorecida pela melhora nos mercados nas últimas semanas, na avaliação dos analistas do BTG Pactual, sem citar o quadro eleitoral. O banco colocou as ações da bolsa como principal recomendação ("top pick") para o resto do ano. "Depois de um longo período de volumes decepcionantes, a companhia tem mostrado uma forte recuperação", informa o BTG, em relatório assinado pelos analistas Eduardo Rosman, Gustavo Lobo e Jose Luis Rizzardo.

A última vez que as eleições mexeram fortemente com os mercados foi em 2002, na primeira vitória de Lula. Na época, a BM&F e a Bovespa ainda eram fechadas e as ações reagiram com queda ao favoritismo do petista nas pesquisas, confirmado nas urnas. As empresas só passaram a ter fins lucrativos cinco anos depois, com a chamada desmutualização e abertura de capital. A perspectiva de crescimento criada com a fusão das bolsas, em 2008, foi interrompida em seguida com a crise financeira internacional.

Até a reviravolta do período pré-eleitoral, a BM&FBovespa vinha de um ano lacônico, o primeiro em uma década sem a realização de nenhuma abertura de capital. No primeiro trimestre, o volume da bolsa em dólar foi o menor desde o segundo trimestre de 2009, de acordo com a consultoria Economatica. Os negócios no mercado também foram afetados pela Copa do Mundo, que reduziu o número e a duração dos pregões durante os jogos.

O chamado "efeito Marina" provocou uma reviravolta também no mercado de juros futuros. Com a maior possibilidade de vitória da oposição, os investidores passaram a apostar em uma tendência de queda nas taxas no longo prazo. A mudança no desenho da "curva de juros" turbinou as operações na BM&F, que bateram o recorde de 292.669 negócios em um único dia na sexta-feira.

Apesar da recuperação recente, o movimento fraco em julho ainda deve pesar sobre os resultados da bolsa no terceiro trimestre. A expectativa da equipe de análise do UBS é de um aumento no volume negociado com derivativos e estabilidade no mercado de ações no trimestre.

Embora a volatilidade no período pré-eleitoral seja positiva, existe o risco de que esse movimento não se sustente. Uma amostra foi o que ocorreu na semana passada. As ações da BM&FBovespa saíram da máxima de R$ 14,19 atingida na sexta-feira anterior para R$ 12,65, uma queda de 11%, atribuída à recuperação da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas.

"A recuperação nos volumes negociados na bolsa e a alta das ações foram 100% motivadas pela mudança inesperada no quadro eleitoral, que agora ficou mais incerto", diz um analista que acompanha a BM&FBovespa. Ao contrário, por exemplo, dos bancos, que conseguem manter os níveis de rentabilidade em praticamente qualquer cenário, os resultados da bolsa dependem muito da conjuntura econômica e dos mercados.

 
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