USDBRL é a bola da vez?

 

O cenário apresentado no Boletim Focus de 19/08 revela uma mudança importante na postura do Banco Central do Brasil (BACEN) em relação à política monetária e ao controle da inflação, com implicações significativas para 2024 e 2025. A manutenção da taxa Selic em 10,5% até o final de 2024, juntamente com a elevação projetada para 10% em 2025, reflete uma postura mais conservadora e cautelosa do BACEN, evidenciando um compromisso firme com o combate à inflação.

A pequena elevação na expectativa de inflação para 2024, de 4,20% para 4,22%, sugere que, embora o BACEN acredite que a taxa de juros atual seja adequada para conter a inflação no curto prazo, há sinais de pressão inflacionária que ainda preocupam a autoridade monetária. A decisão de manter a Selic elevada ao longo de 2024 indica que o BACEN está disposto a sacrificar parte do crescimento econômico para garantir que a inflação não saia de controle.

O ajuste para cima na expectativa da Selic para 2025, de 9,75% para 10%, é particularmente significativo. Essa mudança não apenas sinaliza uma disposição do BACEN em adotar uma postura ainda mais hawkish, ou seja, mais inclinada a apertar a política monetária para combater a inflação, mas também reflete uma preocupação maior com a possibilidade de a inflação se tornar persistente. A inflação controlada prevista para 2025, de 3,91%, sugere que o BACEN espera que essa política restritiva seja eficaz em ancorar as expectativas inflacionárias a longo prazo.

Essa postura contrasta fortemente com a política monetária esperada do Federal Reserve (FED) nos Estados Unidos. Enquanto o BACEN se prepara para manter ou até aumentar os juros, o FED deve iniciar um ciclo de corte de juros já em setembro de 2024. O FED parece estar mais confiante na desaceleração da inflação nos EUA, o que permite uma flexibilização da política monetária com o objetivo de apoiar o crescimento econômico e evitar uma possível recessão. Essa divergência entre os dois bancos centrais reflete as diferentes condições econômicas e desafios enfrentados por cada país.

A diferença nas posturas do BACEN e do FED pode ter várias implicações para a economia brasileira, especialmente em termos de fluxos de capital e dinâmica cambial. Um diferencial de juros mais elevado entre o Brasil e os EUA tende a atrair mais investimentos estrangeiros para o Brasil, em busca de rendimentos mais altos. Esse influxo de capital pode fortalecer o real em relação ao dólar, ajudando a controlar a inflação via câmbio. No entanto, a valorização do real também pode prejudicar as exportações brasileiras, tornando-as mais caras no mercado internacional e, potencialmente, afetando negativamente o crescimento econômico.

Além disso, a política monetária mais restritiva do BACEN pode ter consequências sobre o consumo e o investimento no Brasil. Taxas de juros mais altas aumentam o custo do crédito, o que pode desestimular o consumo das famílias e os investimentos das empresas. Esse cenário pode resultar em um crescimento econômico mais lento, com impactos diretos sobre o mercado de trabalho e a renda das famílias.

Em suma, o BACEN está claramente priorizando o controle da inflação, mesmo que isso implique em certos custos para o crescimento econômico. Essa estratégia visa garantir a estabilidade macroeconômica do país a longo prazo, mas requer uma análise cuidadosa dos riscos e oportunidades que surgem com essa política, especialmente em um contexto global onde outras grandes economias, como a dos Estados Unidos, estão adotando abordagens diferentes.