Empresas da China aceleram aquisições no exterior

Empresas da China aceleram aquisições no exterior

6 fevereiro 2016, 23:32
Thalya Mantovani
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Na foto acima, placa na frente a uma fábrica da Syngenta em Brits, na África do Sul. A fabricante suíça de pesticidas aceitou a oferta de US$ 43 bilhões feita pela estatal chinesa ChemChina. PHOTO: BLOOMBERG NEWS

As empresas da China realizaram um número recorde de aquisições no exterior nas primeiras semanas de 2016, num esforço vigoroso para fortalecer sua presença em outros mercados em face da desaceleração da economia chinesa e desvalorização do yuan.

A China National Chemical Corp., conhecida como ChemChina, divulgou no dia 03/02 que vai pagar US$ 43 bilhões pela fabricante suíça de pesticidas e sementes Syngenta AG, um negócio que, se aprovado pelos acionistas da Syngenta e pelos reguladores, será a maior aquisição de uma empresa da China no exterior.

Incluindo o acordo da ChemChina, o valor combinado das fusões e aquisições externas feitas por empresas chinesas já atingiu US$ 67,99 bilhões no acumulado do ano, o volume mais alto já registrado até hoje nesse período e que já ultrapassou a metade do recorde anual alcançado em todo 2015, segundo a firma de dados Dealogic.

Outras empresas chinesas, como a fabricante de eletrodomésticos Haier Group e a gestora de ativos China Cinda Asset Management Co., também vêm ampliando suas compras de ativos no exterior nos últimos anos, num momento em que a China tenta se fortalecer nos setores imobiliário, petrolífero e de agronegócios.

A onda de negócios está atraindo as atenções para a segunda maior economia do mundo, que em 2015 apresentou seu menor crescimento nos últimos 25 anos e cuja volatilidade do mercado de ações vem causando pânico em investidores do mundo todo.

Estatais como a ChemChina estão entre as compradoras. Uma iniciativa do presidente Xi Jinping para dar impulso ao comércio internacional, batizada de “Um Cinturão, Uma Rota”, pretende abrir novos mercados para empresas chinesas, da Ásia Central à Europa. O plano, que invoca o espírito da velha Rota da Seda entre o Oriente e o Ocidente, significa que o governo pode ajudar a financiar estatais que queiram fazer aquisições no exterior.

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Mas as compras de ativos no exterior por empresas da China podem ainda passar por um exame severo do governo chinês, já que elas ocorrem num momento delicado para a economia do país. Pequim vem ampliando seus esforços para conter a enxurrada de capital que está deixando a China, em resposta ao enfraquecimento da economia e de sua moeda, o yuan, que já recuou 5,5% ante o dólar desde agosto do ano passado. O governo já está, inclusive, dificultando o repatriamento de lucros de empresas estrangeiras que operam no país, segundo pessoas a par do assunto.

A preocupação do governo chinês com a fuga de capital — que pode ter chegado a US$ 1 trilhão em 2015, segundo algumas estimativas — talvez leve os reguladores locais a analisar com mais cuidado algumas aquisições de ativos no exterior, dizem analistas. Mas o governo ainda deve apoiar negócios considerados importantes para a expansão das companhias chinesas fora do país, dizem eles.

“É a natureza dos ativos que determina o apoio de Pequim”, diz Derek Scissors, acadêmico residente do centro de estudos American Enterprise Institute.

As aquisições chinesas de tecnologias vitais do Ocidente, entretanto, devem ser submetidas a uma rígida análise dos reguladores de outros países. Nos Estados Unidos, a agência federal que investiga aquisições de empresas sob o aspecto de riscos à segurança nacional recentemente vetou a compra, por um fundo de investimento chinês, da unidade de iluminação da holandesa Royal Philips NV. A unidade tem fábricas e centros de pesquisa e desenvolvimento nos EUA.

A agência, chamada Comitê de Investimento Estrangeiro nos EUA, provavelmente vai fazer um exame criterioso da transação entre a ChemChina e a Syngenta porque a maior parte do negócio de sementes da empresa suíça está nos EUA.

“No geral, estamos vendo os negócios ficando cada vez maiores”, diz Patrick Yip, líder de fusões e aquisições da empresa de consultoria e auditoria americana Deloitte na China, referindo-se às aquisições chinesas de empresas estrangeiras. “Estou trabalhando em várias delas. As empresas chinesas querem poder de marca e alta tecnologia.”

David Brown, líder de serviços de transações da consultoria PricewaterhouseCoopers na China e Hong Kong, prevê um aumento anual em torno de 50% nas fusões e aquisições chinesas no exterior nos próximos anos.

Há uma “enorme demanda reprimida”, diz Brown, à medida que as empresas da China ganham confiança para buscar negócios no exterior.

A desvalorização do yuan — e a expectativa de que a moeda continue caindo — significa que as empresas estatais da China vão tentar comprar agora antes que esses ativos estrangeiros fiquem mais caros, diz Rocky Lee, sócio do escritório de advocacia americano Cadwalader, em Hong Kong.

Depois de uma alta de mais de 30% nos últimos dez anos, o yuan já recuou 8% em relação ao dólar desde o início de 2014, enquanto as autoridades da China tentam fazer com que o câmbio seja mais ditado pelo mercado, ao mesmo tempo em que lidam com uma desaceleração cada vez mais profunda da economia.

Alguns analistas creem que o yuan possa cair até 10% mais até o fim do ano, diante de receios de que a economia da China esteja se desacelerando de forma mais rápida que o previsto.

As estatais chinesas estão recebendo um amplo apoio do governo para suas aquisições estratégicas no exterior.

“Um monte [de estatais] têm bastante dinheiro em caixa”, diz Ben Cavender, diretor da firma de pesquisa China Market Research Group em Xangai. “Um dos problemas que elas têm é a falta de espaço para crescer no mercado local.”

A ChemChina, quando fechou a compra da Pirelli & C. SpA por cerca de US$ 7,7 bilhões, no ano passado, tinha garantido financiamentos de um veículo de investimento patrocinado pelo governo da China. Pelo acordo, o Silk Road Fund Co. — que é controlado pela Agência de Relações Exteriores do Estado da China e outras entidades estatais — obteve uma participação de 25% na subsidiária da ChemChina que adquiriu as ações da fabricante italiana de pneus.

O governo provavelmente continuará dando apoio financeiro a empresas estatais para comprar ativos estrangeiros, inclusive em áreas como tecnologia, petróleo e infraestrutura, diz Lee, do escritório Cadwalader.